sexta-feira, 6 de março de 2009

Zé Romão e Doralice


Zé Romão e Doralice



Zé Romão era um cara politicamente correto, honesto, quando se diz de pagar os impostos em dia; á Deus o que é de Deus, á Cesar o que é de Cesar, ele dizia. Andava com as calças bem acinturadas, claro presas pro uma correia de couro tão surrada quanto o próprio Zé. Mas não se engane, era um cara pintoso, e sem duplos sentidos, talvez com. Andava sempre, sempre, batendo o solado das botas no chão, fazendo musica, tramborilando os dedos a cada contratempo sonoro. Ziguezagueando os olhos e batendo os lábios como percussão. Chacoalhava os cabelhos a cada dois tempos e pigarreava a cada intervalo de semi-breve. Usava o som dos ventos como tenor, e colchetes em compassos 4/4. E no mais, sorria. Era sempre seu grand finale. Sorria principalmente quando encontrava Doralice.



Miudinha, quase quebrável, era o tudo de Zé. A ela, ele dedicava todas as suas musicalidades, e ela podia ouvir, todas em clave de Sol, claro. Como ele dizia, “Sol combina com você, minha querida”. Eles se cantavam todos os dias.



Dia após dia Romão compunha novas sinfonias a Dora, ate suas botas se gastarem...Mas não desistiu, continuou sem o som imponente das botas, que agora se parecia mais com um xixiar de coisa velha. Não importava o grand finale ainda estava lá, e era em seu rosto. Ele a tocava e ela fazia cambre. Ah como era adorável.



Todos os dias colcheias e semi-colcheias, causavam inveja nos pássaros que se atreviam a manter pouca distância, dos compositores.
Veio então a perda das botas, elas não batiam mais ao chão, nem mesmo xixiar faziam, os dedos não queriam mais tamborilar, então apareceram mínimas, e os olhos já não mais queria ziguezaguear. Os lábios tocavam apenas o bumbo, vai a quarta, a quinta,o acorde menor cai, e o acorde maior sobe, e aparecem semi mínimas. Os cabelos já não mais nem ao menos balançavam.
A clave não combinava tanto assim com Dora, nem haviam mais cambres, tudo agora era grand jetes, e atchitchitchis. Não me pergunte o que aconteceu, a musica apenas deixou de ser ouvida.
Sem intervalos de semi-breves, sem tenores dos ventos, sem compassos 4/4. Sem grand finale. Então surgiram as fusas.

2 comentários:

No Limite do Oceano disse...

Excelente! Gostei muito da história, do sentido rítmico que desta à narrativa. Teve um principio, meio e fim.

E porque não descrever a Doralice? Como é que ela sentia a música do Zé Romão?

*Hugs n' smiles*
Carlos

Eduardo disse...

usas essas onomatopeias...sem as usares.
o que importa é criares essa bela imagem na nossa cabeça.
muito bom**